Haddad afirma que atendeu ‘clamor por transparência’

O prefeito Fernando Haddad (PT) disse à Folha que cancelou a licitação de ônibus, de R$ 46 bilhões, por causa do “clamor da sociedade por transparência”. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha – Por que o sr. cancelou a licitação dos ônibus?
Fernando Haddad – Embora nós estivéssemos muito maduros sobre o edital, um contrato dessa natureza, nessas circunstâncias, não pode ser firmado sem que haja maior participação da sociedade. Não podemos correr nenhum risco de que pairem dúvidas sobre esse contrato.

Diante do clamor da sociedade por transparência, por lisura, não podemos correr o risco de colocar isso em ação e em alguns meses colocar em xeque um processo que tem de primar pela transparência até o fim. Se a sociedade está mobilizada, precisamos usar essa mobilização a favor da cidade.

Há versões de que os empresários ameaçavam boicotar a licitação por conta de uma eventual redução de ganhos.

Não tenho conhecimento de nada desse tipo. Até em função do Bilhete Único Mensal, eles sabiam que havia demandas adicionais a serem atendidas. Nós formulamos uma proposta de remuneração que é mais justa do que a atual. A remuneração não será mais por passageiro. O que acaba com que o empresário prefira ser multado por uma partida a menos. Ele prefere a multa do que colocar um carro [ônibus] a mais.

Como nós nos comprometemos com as faixas exclusivas e os corredores, eles não têm por que reagir.

Isso porque faixa e corredor aumentam velocidade e ganhos dos ônibus
Exatamente. Nós estamos nos comprometendo com investimentos que vão melhorar muito a eficiência do sistema. Uma coisa acabaria compensando a outra.

O aumento do subsídio compromete a promessa de construir 150 km de corredores?
Não, porque o dinheiro será federal em sua maioria. Estou indo fechar o primeiro pacote do PAC São Paulo na semana que vem em Brasília. Os 76 km de corredores que licitamos neste ano já foram no modelo do PAC.

Os 210 km de faixas exclusivas não dependem desses recursos?
Faixa exclusiva depende de decisão política: eu vou segregar uma faixa exclusiva para transporte coletivo nas grandes avenidas da cidade.

O sr. não tem medo de contrariar os motoristas de carro?
É por isso que estou dizendo que é uma decisão muito mais de caráter político. Penso que é justa do ponto de vista social. O motorista de carro, em geral, mora mais perto e está numa zona de conforto.

Confortável ninguém está, mas, na comparação com quem sai da praça da Bandeira até o Grajaú e enfrenta duas horas e meia em um ônibus superlotado… Não há outra maneira de melhorar o sistema a não ser diminuindo o número de passageiros por ônibus e aumentando a velocidade. Doze quilômetros por hora é completamente inviável para o transporte público.

O sr. orientou a base aliada a apresentar pedido de CPI?
O que eu recomendei para o secretário de Governo é que ele respeitasse a autonomia da Câmara, que não procurasse jogar a favor ou contra [a CPI]. A própria base e o PT estavam divididos em relação a isso. Não houve nenhuma ação de governo nesta ou noutra direção.

Por:MARIO CESAR CARVALHO
(Fonte: Folha SP)

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