Os critérios de concorrência nas licitações públicas precisam ser revistos para estimular a sustentabilidade na construção civil, e o menor preço deve ser um dos parâmetros, mas não o único. A opinião é do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. Ele participou nesta quarta-feira (5) de debate sobre o papel das construtoras na sustentabilidade.
“O governo tem que mudar seu processo de compra. A compra tem um peso muito grande na obra e da forma como está colocada não dá nenhum estímulo à introdução de critérios sustentabilidade”, disse Safady. Para o ele, o modelo atual inibe a inovação. “O preço deve ser um parâmetro, não um teto”, completou.
Simão explica que mudanças nas regras para as compras do governo têm o potencial de estimular o desenvolvimento de produtos novos e mais econômicos. Eles podem ser encomendados em larga escala, o que acaba beneficiando o consumidor. Este ambiente colabora para promover a concorrência entre as empresas e o menor preços para as famílias.
Segundo o presidente da CBIC, mesmo custando mais caro, o governo e o consumidor devem avaliar os benefícios de longo prazo. “Pode ser que custe mais caro agora, mas isso deve ser analisado por toda vida útil do empreendimento. Uma casa com sistema de água e energia racional, paga mais atualmente, mas terá contas reduzidas a vida inteira”, disse.
Ao concordar com a necessidade de o governo investir em práticas que reflitam em menos impacto para o meio ambiente,
a secretaria de Articulação Institucional e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente, Mariana Meirelles, disse que os critérios de sustentabilidade estão “entrando nos protocolos da construção civil. “É um processo, é aos poucos”, afirmou.
O problema nas licitações públicas também está sendo apreciado no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão da Presidência da República, presidido pelo empresário do ramo do aço, Jorge Gerdau. Segundo Paulo Safady, foram escolhidas 15 prioridades de uma lista de 40 fatores que elevam os custos das construções do Programa Minha Casa, Minha Vida. Entre elas, cartórios, tributos, juros e obsoletos códigos de obras e padrões técnicos.
Na avaliação de Paulo Simão, o ambiente de negócios no Brasil é impróprio. “O construtor tem que ter lucro. É a concorrência que vai definir a taxa de retorno ser maior ou menor. O pessoal está preocupado com o lucro do construtor, quando deveria estar preocupado com a maneira de construir, com as regras”, criticou.
A necessidade de revisão dos currículos de engenharia e arquitetura também foi uma das questões apontadas no debate sobre sustentabilidade na construção civil. Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Siegbert Zanettini, o currículo de ambos os cursos devem andar juntos, para permitir troca de conteúdo.
(Fonte: DCI)