Estamos participando de um PE de registro de preço por lotes, pelo preço global do lote e não por itens. Ocorre que na proposta eletrônica em 01 dos itens inseri marca e modelo errado e agora seremos convocados para enviar proposta formal. Posso ajustar esse item (marca e modelo) na proposta formal, trata-se de um acessório irrelevante, sem alterar o valor? Corro risco de desclassificação? O que o TCU entende sobre isso?
Dada a pertinência da consulta (marca na licitação), envio abaixo um artigo da minha autoria, publicado na Revista Prefeitos e Gestões
A POLÊMICA DA MARCA NA LICITAÇÃO
De modo geral é vedada a determinação da marca referente objeto da licitação. Neste sentido, as decisões dos Tribunais de Contas têm anulado licitações que estipulam uma determinada marca, sem que outra equivalente ou superior possa substituí-la.
Na Lei n° 8.666/93 é vedada a realização de licitação cujo objeto inclua bens e serviços sem similaridade ou de marcas, características e especificações exclusivas; também impõe que no edital deve constar a especificação completa do bem a ser adquirido sem indicação de marca; e, que mesmo em face de inexigibilidade de licitação, é vedada a preferência de marca.
A lógica sistemática destas normas amolda-se ao princípio da isonomia, o qual impede o favorecimento à determinada marca, conferindo assim igualdade de oportunidades no acesso ao mercado público. Além disso, submete o particular ao interesse público por meio da preservação da competitividade nas licitações.
De outro lado, não é raro que a Administração, quase sempre submetida ao critério legal do menor preço, seja “obrigada” a adquirir produtos e serviços de qualidade inferior. Para contornar essas circunstâncias, também não são raros os editais com características técnicas exclusivas de uma determinada marca. Isso configura um dirigismo implícito, reprovado pelos Tribunais.
De fato, a elaboração de especificações técnicas adequadas para fins licitatórios pode envolver complexidades e até impugnações, recursos, anulações e sanções. Nessa narrativa, cabe considerar o Catálogo de Materiais – CATMAT, do sistema COMPRASNET, administrado pela Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Este catálogo contém mais de 65.000 itens com seus respectivos padrões descritivos, que podem ser consultados no http://comprasnet.gov.br.
No entanto, há exceções que admitem a marca do produto no edital. Neste sentido, o Tribunal de Contas da União decidiu que “permite-se menção a marca de referência no edital, como forma ou parâmetro de qualidade para facilitar a descrição do objeto, caso em que se deve necessariamente acrescentar expressões do tipo ‘ou equivalente’, ‘ou similar’, ‘ou de melhor qualidade’, podendo a Administração exigir que a empresa participante do certame demonstre desempenho, qualidade e produtividade compatíveis com a marca de referência mencionada.” (Acordão 113/2016 – Plenário)
Importante notar que há outra hipótese admitida pelo Tribunal de Contas da União, sem a obrigação de similaridade ou equivalência, preceituada na Súmula n° 270/2012: “Em licitações referentes a compras, inclusive de softwares, é possível a indicação de marca, desde que seja estritamente necessária para atender exigências de padronização e que haja prévia justificação.”
Ademais, a licitação torna-se inexigível diante de inviabilidade de competição, em especial para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo (Lei n° 8.666/93, Art. 25).
Portanto, fica claro que a marca não deve ser citada no edital, exceto para fins de referência na descrição do objeto da licitação ou em face de padronização devidamente justificada. Mesmo no caso de inexigibilidade de licitação a contratação direta é admitida porque a competição não é viável, mas não em razão da escolha subjetiva de uma marca.
(Colaborou Professor Dr. Roberto Baungartner – advogado, Mestre e Doutor especializado em Licitações Públicas e consultor jurídico da RHS LICITAÇÕES).