Após uma pausa de seis anos, o Brasil retoma as licitações de petróleo e prepara o primeiro leilão das reservas do pré-sal, uma prova para o setor, que se divide entre o otimismo pelas novas reservas e críticas de quem considera excessiva a intervenção do Estado.
O Brasil anunciou em 2007 a descoberta de uma imensa jazida de petróleo em águas ultraprofundas no litoral do país, sob uma grossa camada de sal, que ocupa uma área estimada de 149.000 km².
Depois de seis anos sem licitações, quando redefiniu as regras para a distribuição de royalties e a participação do Estado, o governo retomou em maio os leilões para 300 blocos de petróleo dessa área do ‘pré-sal’ – a maioria em uma nova fronteira inexplorada do norte e do nordeste do país – e atraiu uma quantidade recorde de companhias de todo o mundo.
Em novembro, o governo abre outro leilão para 240 blocos terrestres de gás.
Campo de Libra, a grande aposta
A grande aposta do ano será o campo de Libra, que tem licitação prevista para 21 de outubro no Rio de Janeiro, este sim na promissora área do ‘pré-sal’, na bacia de Santos (sudeste), com reservas recuperáveis avaliadas entre 8 e 12 bilhões de barris.
Estima-se que o gigantesco campo possa gerar cerca de um milhão de barris de petróleo por dia em cinco anos, a metade da produção total do país hoje.
A Petrobras será a única operadora, com pelo menos 30% de participação na concessão de Libra, como acontecerá nas concessões futuras da área do pré-sal, de acordo com a lei criada especialmente para essas jazidas em 2010.
Esta lei, iniciativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pretende dedicar participação e compensação maiores para o Estado, que destinará boa parte desses recursos à educação e à saúde. “O cenário para o setor mudou com as reservas de pré-sal e a lei de 2010, mas estamos otimistas: o Brasil tem o que é mais importante, petróleo e gás”, disse Ricardo Savini, diretor do Centro Petróleo e Gás da consultoria Deloitte/Brasil.
“Os três leilões deste ano vão reaquecer a atividade da produção petrolífera” no país, destacou o especialista, ao considerar que o Brasil deve duplicar sua produção até 2020, dos atuais 2 milhões de barris por dia, a quatro.
Os planos de investimento da Petrobras para o período 2012-2016 se elevam a 236 bilhões de dólares, dos quais 60% são destinados à exploração e produção de petróleo e gás.
Ausência das gigantes petroleiras americanas
Onze empresas, incluindo a Petrobras, se inscreveram para participar do leilão de Libra, mas nenhuma grande empresa americana. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, “a ausência das grandes petroleiras americanas se deve a um intervencionismo excessivo do Estado brasileiro” no modelo de exploração de petróleo.
Além disso, acrescenta Pires, a criação de uma nova empresa estatal – PPSA – para gerir as jazidas do pré-sal afugenta os investidores privados. Também não ajuda, considera Pires, que “os seis últimos anos tenham sido marcados por uma ausência de licitações de petróleo no Brasil, e os investidores estrangeiros foram para outros lugares”.
Para o especialista de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ), Alexandre Szklo, “Libra é um campo muito promissor e como o risco é menor, é normal que o Estado queira uma intervenção maior”.
Para este especialista, a licitação de Libra será uma prova que definirá qual pode ser o futuro do pré-sal. Segundo ele, se existe interesse de grandes companhias estatais, de europeias como Shell e Total e de asiáticas como China National Corporation (CNPC), e não das americanas, é porque “os capitais privados diversificaram seu portfólio. Isso, por exemplo, gerou aquisições de empresas produtoras de gás de xisto nos Estados Unidos e Canadá”, explicou.
O especialista considerou que as empresas chinesas terão um papel importante nos futuros leilões, em busca, acima de tudo, da segurança energética, antes até da rentabilidade.
A Agência Nacional de Petróleo que regula o setor se declarou “satisfeita” com as onze empresas na disputa e destacou: das onze interessadas, sete estão entre as que mais valorizadas no mundo: China National Corporation (CNPC) (2ª), Shell (3ª), Ecopetrol (6ª), Petrobras (7ª), Total (8ª), China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) (10ª), Repsol/Sinopec (Sinopec – 11ª), destacou a ANP à AFP.